Energia e a Quimica
Renato José de Oliveira
Joana Mara Santos
Esta seção tem procurado apresentar artigos que analisem conceitos científicos de interesse direto dos químicos de forma crítica e atualizada.
Neste artigo, os autores têm por objetivo focalizar a utilização do conceito de energia na química, especialmente no que se refere aos processos de troca de calor. Assim, questionam como vem sendo utilizada a expressão ‘energia química’, o que contribui para analisarmos como, de forma geral, lidamos acriticamente com as definições da ciência. energia química, calor, energia
D
esde que o ser humano surgiu na face da Terra, deparou com estranhos fenômenos que hoje dizemos estar ligados ao conceito de energia. Dentre eles, possivelmente o fogo foi o mais impressionante. Dominá-lo significava dar um grande passo para lidar com a escuridão, o frio e outras situações pouco confortáveis impostas pela natureza.
A importância do fogo para os seres humanos foi tal que diferentes mitologias fizeram relatos dele. Os antigos gregos, por exemplo, consideravamno propriedade dos deuses. Quando o titã Prometeu1 roubou o fogo sagrado de Zeus para ofertá-lo aos seres humanos, sofreu na carne o peso da ira divina: condenado a viver acorrentado a um rochedo, tinha seu fígado devorado por um abutre todos os dias2. Uma vez comido pela ave, o órgão se regenerava durante a noite para novamente lhe servir de alimento ao amanhecer.
Tendo aprendido a fazer a queima
(cujo princípio só seria estabelecido muitos séculos mais tarde por Lavoisier), será que o ser humano teria começado a fazer química? À primeira vista somos tentados a dizer que sim, uma vez que o domínio das técnicas de combustão permitiu o desenvolvimento da cerâmica e da metalurgia,
entre outras realizações. Todavia, se entendermos por química não um conjunto de técnicas de manipulação e produção de materiais e sim uma ciência que articula planos de investigação