Em busca dos meios de ação
Em busca dos meios de ação.
Ken Hirschkop esclare em penetrante estudo da concepção de carnaval de Mikhail Bakhtin a íntima ligação que este supõe entre o medo e o poder. Bakhtin divisou o medo no berço do poder. O que descobriu na origem do poder foi um medo cósmico, semelhante ao medo “tremendo” de Rodolph Otto e, em parte, ao medo “sublime” de Kant.
O medo oficial tinha que ser como era de fato, fabricado – concebido e produzido “sob medida”: precisava de réplicas humanas para o céu estrelado e os maciços montanhosos; como estes, era distante e inacessível, mas ao contrário do firmamento e das cordilheiras, enviava uma mensagem clara e inequívoca aos mortais. O poder mundano transformou o medo primitivo em horror do desvio á norma.
No seu avatar oficial, o medo cósmico era agora mediado. Não se abrandou com isso foi apenas domado, domesticado. Ele agora se instalava entre seus habitantes, ganhou endereço terrestre, embora isso não o tornasse mais acessível: a nova residência podia ser no alto da colina e não mais no céu, mas o acesso era severamente vigiado.
Medo e Riso.
Diferentemente dos poderes cósmicos, suas réplicas mundanas falavam e de modo a serem ouvidas e obedecidas. Isso, de certa forma, era tranqüilizador: os mortais agora sabiam, ou achavam que sabiam como aplacar a ira dos altos poderes e, como aliviar seu próprio medo. Oferecia-se um acordo, uma troca fácil de aceitar: noites calmas compensariam a dócil obediência diurna. Enquanto seguíssemos o roteiro ao pé da letra, teríamos certeza de que os poderes aterradores estariam cochilando nos bastidores. Sobre o que comentava Hirschkop: a “essência do medo político é o senso de suprema vulnerabilidade ao outro, mais do que a preocupação com uma ameaça de perigo específica”. Não basta proferir as normas a serem cumpridas. É necessário, além disso, o terror do castigo para os que desobedecerem a ás normas, seja elas quais forem.
O medo cósmico não entraria no