Em busca das penas perdidas
Instalou-se na sociedade a ideia de que moradores de áreas periféricas como: morros e favelas são criminosos. Alvos de estigmatização, essas pessoas carregam com elas a marca de um crime, que é o simples crime de residirem num local que é tido como um antro de criminosos e ociosos. Suas formas de se expressar, de se vestir criam formas de representação em que a outra parcela da sociedade que vive do outro lado da balança, não aceita.
Por ¨ fugir ao padrão ¨, apresenta-se como uma ameaça ao esquema classificatório de nossa estrutura social. Por não representar os valores ideais do padrão social, passa a ser vista como algo a ser evitado, [...] com esse rótulo genérico é atribuído aos moradores indistintamente, todos eles são perigosos [...] Ser morador da favela é trazer a ¨ marca do perigo ¨, é ter uma identidade social pautada pela idéia de pobreza, miséria, crianças na rua, família desagregada, criminalidade, delinqüência.(ZALUAR, 2006, p. 306, 307)
O que significa viver ao avesso da civilização, sendo temidos e até odiados, por simplesmente não apresentarem determinadas normas morais que são esperadas pela elite dominante. Ilustrativos desse processo são as palavras do padre José de Anchieta (1534-1597), célebre missionário jesuíta que veio da Europa para participar da evangelização dos povos indigenas: “Pouco fruto pode se obter deles se a força do braço secular não acudir para domá-los. Para esse gênero de gente não há melhor pregação do que a espada e a vara de ferro.” (GILBERTO COTRIM, 1994, p. 33).
Essa frase sintetiza claramente que a criminalização é um processo histórico que está enraizado ideologicamente desde a invasão das Américas, quando os europeus conquistaram brutalmente o continente e trouxeram um