Em busca da política
Pode ser que para muitos o título do presente artigo apresente-se incômodo. Afinal, qual o motivo para sair em busca da política? Política não seria coisa para daqui a dois anos nas eleições presidenciais? Não seria melhor vivermos sem a política? O titulo do artigo é tributária de uma das obras do eminente sociólogo/filósofo Zygmunt Bauman. É uma boa companhia para quem quer desafiar-se a entender os tempos que correm. Nesta perspectiva, como condição de potencializar a reflexão e o questionamento, partimos do pressuposto de que o mundo contemporâneo está entrelaçado e transpassado pela esfera da produção e consumo da vida. Contexto existencial produtivo que se caracteriza pela vivência cotidiana do medo, da insegurança em relação ao meio ambiente, à economia, à política, atingindo nosso próprio corpo, expropriado de si, submetido às mais variadas formas de riscos, contágios e dietas. Paradoxalmente, vivemos na sociedade da plena produção e ao mesmo tempo de carências as mais variadas, com medos, com perda da autoconfiança e consequentemente com desconfiança em relação ao outro. Talvez, até mesmo possamos pressupor que a desconfiança faz parte do jogo em uma busca de sobrevivência em tempos ambivalentes em que nos encontramos. Vivemos numa sociedade/cidade de indivíduos, as pessoas esqueceram o fundamental para viver bem, que reside no valor da amizade, que a amizade encoraja as pessoas para uma vida melhor. Nossa sociedade marcante individualizada torna-se refém da vigilância em tempo real. Somos vigiados a todo o instante, e pasmem, ou não, queremos ser vigiados. Talvez isto explique em partes o sucesso de programas como “Big-Brother”, domesticação, vigilância e espetáculo, parecem ser os ingredientes da vida em sua cotidianidade. Vivemos vários mundos diariamente, o mundo da produção, o mundo do consumo, o mundo do risco e do riso, e o mundo do medo. O riso é aquele forçado e mastigado pelo medo. Medo sai