elza cansaçao
17888 palavras
72 páginas
Com 38 medalhas no peito, a major Elza Cansanção Medeiros não é exatamente o tipo de enfermeira que costumamos encontrar nos corredores dos hospitais. Chefe da preservação do acervo da memória da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, ela também é pilota de ultraleve, escultora premiada por seus bustos de personalidades militares e ex-atriz de teatro. Aos 85 anos, orgulha-se, acima de tudo, por ter sido a primeira enfermeira voluntária da FEB e uma das cinco primeiras a desembarcar, em agosto de 1944, no teatro de operações da Itália. A Segunda Guerra Mundial já havia perdido parte de seu ímpeto, mas ela viu de perto as feridas abertas pelo conflito. Cortou relações com a família para chegar lá, “rachou a coluna” ao cair no buraco de uma explosão de granada, viu o racismo das norte-americanas com relação às enfermeiras mulatas brasileiras e também foi vítima do preconceito quando chegou por aqui. “Achavam que éramos prostitutas, que tínhamos ido à Itália para ganhar a vida”, conta ela, em entrevista exclusiva a Grandes Guerras. Elza fez parte de um grupo de 73 enfermeiras brasileiras que foram à Itália. A paixão pelo passado vivido em hospitais de lona e em meio a explosões e alarmes a levou a escrever livros como Nas barbas do Tedesco (Biblioteca do Exército, 1955), E foi assim que a cobra fumou (Imago, 1987), e Eu estava lá (Ágora da Ilha, 2001). A seguir, ela também fala sobre sua experiência na frente de batalha.
Como sua família reagiu quando a senhora contou que iria para a guerra?
Meu pai cortou relações. Ele não gostava de Hitler, mas era germanófilo. Era médico e fez pós-graduação na Alemanha, por isso tinha amigos importantes por lá. Até nossa governanta era alemã. Mas eu queria ir, não podia admitir que os alemães matassem minha gente e eu não estivesse lá para ajudar. Fiz o curso de enfermagem com a finalidade de ir para a guerra e fui a primeira voluntária inscrita. Mamãe também queria ir. Só não foi