Eles eram muitos cavalos
O anúncio publicitário “Ceja bem vindo, esprimente a linguiça”apresenta indicadores de quem o escreveu em uma parede.
É possível que o autor seja o próprio dono de um pequeno restaurante à beira da estrada, no interior do país, pois o imóvel em cuja lateral está escrito o texto é muito simples e parece precário. Do gênero masculino, quem escreveu deve ter entre 25 e 50 anos, informações sugeridas pelos traços das letras que são firmes, embora sem tratamento estético. E também pelo fato de esse tipo de trabalho, no Brasil, ser realizado geralmente por homens. O uso da variante inculta no texto permite dizer que o emissor/locutor é semianalfabeto por ter sido exposto a um grupo social com o qual ele adquiriu tal variação linguística.
Desvios da norma culta em palavras simples como “ceja” e “esprimente” sugerem que o cidadão escreve da mesma maneira que fala, sem observar as exigências da língua escrita. Essa afirmação é reforçada pela existência de ambiguidade na palavra linguiça. No texto, tal vocábulo pode referir-se ao prato servido no restaurante, ou, veladamente, ao órgão sexual masculino. Para não apresentar duas ou mais possibilidades de interpretação, o anúncio poderia ser “Seja bem-vindo e experimente linguiça suína/toscana/de frango, prato principal da casa”. De todo modo, o autor estabelece comunicação com interlocutores da língua materna, ou seja, ele consegue divulgar o estabelecimento comercial e o produto, porque, embora apresente desvios da norma culta, o texto foi escrito em língua portuguesa.
Assim, fica evidente que é possível elaborar o perfil do falante pelo texto o qual ele escreve ou fala. Cabe ao profissional de nível superior comunicar de forma simples, elegante e clara, adequando à circunstância e ao interlocutor. Textos orais e escritos produzidos sem pedantismos técnicos de um lado, e sem desleixos, de outro, facilitam a comunicação entre as