ELEIÇÃO DE DIMA
- O Estado de S.Paulo
Sem o presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff nem candidata teria sido. Com ele, acaba de entrar para a história como a primeira mulher eleita para governar o Brasil e a segunda pessoa a chegar à Presidência sem nunca antes ter disputado uma eleição. A primeira foi o marechal Eurico Dutra, em 1945, com o apoio, aliás, do recém-deposto ditador Getúlio Vargas. E Lula se consagra como o primeiro presidente brasileiro a fazer o sucessor na plenitude democrática, pinçando uma figura de quem a grande maioria do eleitorado não tinha ouvido falar. O que o obrigou a levá-la consigo para cima e para baixo, afrontando a lei, antes do início da campanha.
À época, políticos e comentaristas se perguntavam se a popularidade única do presidente bastaria para eleger "um poste", na expressão clássica que parecia feita sob medida para Dilma. Jejuna em disputas eleitorais, com empatia zero e imagem de tecnocrata de fala pedregosa, incapaz de expor uma idéia sem a muleta do PowerPoint, Dilma era a carga que, em circunstâncias normais, nem o mais desesperado dos marqueteiros aceitaria transportar de bom grado. Mas, transformada num estranho híbrido de si mesma com a versão para consumo eleitoral, sob adversidades que poderiam perfeitamente bem desestabilizá-la (Erenice, aborto, um inesperado segundo turno), ela deu conta do recado.
O seu mérito próprio - sem o qual o fator Lula talvez não fosse suficiente - foi o de inspirar confiança na sua aptidão para dar continuidade às políticas que levaram legiões de seus beneficiários a endeusar o presidente. Isso ajudou a neutralizar os seus problemáticos traços de personalidade e o fato de não ser, diferentemente do patrono, "uma de nós", nem ter um grama que seja do carisma dele. Se, de acordo com as estimativas, 20% dos que acham Lula o máximo votaram no tucano José Serra, assim como a metade dos que consideram bom o seu governo, sabe-se lá qual teria sido o desfecho do pleito se a