Eg Rá - Nossas Marcas
Grafismo para a Preservação e Valorização da Cultura Kaingáng. Terra Indígena Serrinha.
Ronda Alta, 2012.
Eg Rá “Nossas Marcas”: A importância do Grafismo para a Preservação e Valorização da
Cultura Kaingáng.
Joziléia Daniza Jagso Inácio Jacodsen
RESUMO: O presente artigo pretende analisar a importância dos grafismos Kaingáng na concepção de identidade social, procurando visualizar a relevância das marcas para o dualismo clânico, Kamé e Kanhrú-kré. Ainda, visa refletir sobre preservação das marcas (rá) presentes nos artesanatos de comercialização em um contexto de novas abordagens de utilização destes grafismos em materiais alternativos.
Palavras Chave: grafismos, artesanatos, identidade, Kaingáng.
1.
O grafismo Kaingáng (Rá)
Bem mais do que simplesmente formas estéticas de desenhos de artesanatos ou pinturas
corporais, os grafismos Kaingáng concentram o entendimento da estrutura social/dualista do
Povo Kaingáng.
A sociedade não indígena conhece os formatos geométricos dos desenhos Kaingáng principalmente por estarem presentes em suas cestarias, que são comercializadas nas zonas urbanas das grandes cidades e nas cidades que estão no entorno das Terras Indígenas
Kaingáng. O que a maioria das pessoas da sociedade não indígena desconhece é que muito além dos desenhos geométricos aquelas figuras possuem toda uma identidade que caracteriza os Kaingáng, estando intimamente ligada ao dualismo clânico que os estrutura socialmente.
Como afirmam Marcel Mauss e mais tarde Claude Lévi –Strauss, essa dualidade corpo (forma plástica) e grafismo (comunicação visual) expressa outra dualidade mais profunda e essencial: de um lado o indivíduo, de outro o personagem social que ele deve encarnar. Entendida nesse contexto, a decoração é uma projeção gráfica de uma realidade de outra ordem, da qual o indivíduo também participa, projetado no cenário social pela pintura