EDUCAÇÃO QUILOMBOLA EM DEBATE: A ESCOLA EM CAMPINHO DA INDEPENDÊNCIA (RJ) E A PROPOSTA DE UMA PEDAGOGIA QUILOMBOLA
INDEPENDÊNCIA (RJ) E A PROPOSTA DE UMA PEDAGOGIA QUILOMBOLA
Kalyla Maroun – PUC-Rio
Jose Mauricio Paiva Andion Arruti – PUC-Rio
Introdução
Este trabalho apresenta e busca interpretar o debate em torno da demanda por uma escola diferenciada, apresentada pelas lideranças da comunidade quilombola
Campinho da Independência (Paraty, RJ) e da rejeição à proposta da comunidade pela gestão municipal, bem como pela própria escola local.
Campinho da Independência se destaca no quadro geral das comunidades quilombolas do estado do Rio de Janeiro em função de uma trajetória política de destaque e vanguarda no movimento quilombola estadual e nacional, de ser a única comunidade quilombola titulada no estado, e, em especial, por seu pioneirismo, no Rio de Janeiro, na construção e discussão de uma proposta pedagógica específica. Tais características foram fundamentais para que escolhêssemos o Campinho como principal
“situação” a ser abordada, ao modo de um “estudo de caso”, no âmbito do projeto
Panorama Quilombola no Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ 2008-2010)1.
Assim, nosso objetivo neste texto é descrever e tornar compreensivas as diferentes posições tomadas pela comunidade e pela escola municipal diante do debate entre suas concepções de educação, de escola e, consequentemente, de projeto social.
Para o desenvolvimento da pesquisa trabalhamos na interface da Antropologia e
Educação, aliando a leitura de documentos com entrevistas e breves períodos de trabalho de campo.
Aportes ao debate sobre uma “educação quilombola”
Com o processo de ressemantização do termo quilombo a partir da Constituição
Federal de 19882, esta categoria deixa de descrever apenas a ideia expressa na legislação colonial e imperial, segundo a qual o quilombo remetia a agrupamentos de escravos fugidos, para passar a delinear um tipo de comunidade que, sendo composta
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Projeto desenvolvido pelo Laboratório de Antropologia