Educação Mecanicista e de Mercado
Artigo de Cristiano Sales, publicado no Observatório da Imprensa
LEITURAS DO ‘GLOBO’
Educação, jornalismo, publicidade: não se fracassa sozinho
Por Cristiano de Sales em 09/12/2014 na edição 828
Poderíamos chamar de infeliz o anúncio publicitário que ocupou a página 5 do jornal O Globo de domingo (7/12), que procurava promover políticas educacionais da prefeitura do Rio de Janeiro. Mas não, infelizes somos nós que já passamos, há tempos, da categoria de leitores para a de consumidores e agora para a categoria de mercadorias, conforme ensinou Carlos Castilho, neste mesmoObservatório,quando escreveu sobre a publicidade nativa (ver “Publicidade que parece notícia”). Além de já termos sido coisificados (e olha que nem sou marxista; aliás, precisa ser um para perceber isso?), agora testemunhamos de maneira explícita a concepção que administrações públicas como a do Rio de Janeiro têm sobre o que é educar um povo. Produção em série de pessoas supostamente habilitadas a desenvolver determinadas (e muito bem determinadas!) tarefas. Homogeneização das habilidades; nem sei se podemos falar neste caso em homogeneização do pensamento, pois não dá para confiar que um órgão que promova sua contribuição à educação com anúncios como o acima destacado esteja estimulando algum pensamento em seus produtos, digo, crianças. O espantoso desse anúncio não é a revelação do óbvio, pois sabemos que temos alguma herança da ditadura militar (e até de antes) no nosso processo educacional, o que justifica a não prioridade ao estímulo do senso crítico e das heterogeneidades. O que de fato chama a atenção é a maneira explícita e sem pudor com que administração pública e jornalismo/publicidade expõem essas concepções estanques de educação sem levar em conta que o leitor possa se incomodar em ser tratado e ver seus filhos tratados como mercadorias. E se o fazem dessa maneira é