Educação jesuitica
Educação jesuítica e crianças negras no Brasil Colonial
Amarilio Ferreira Júnior Marisa Bittar
Palavras-chave: educação colonial; colégios jesuíticos; crianças negras.
Ilustração: Carlos Augusto Luzzi
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R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 80, n. 196, p. 472-482, set./dez. 1999.
pelos jesuítas eram realizadas com crianças de várias origens raciais. Contudo, a literatura consagra, tradicionalmente, a empresa educacional junto às crianças brancas, indígenas, mamelucas e mulatas. Uma evidência desta assertiva é Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre. Nessa obra, Freyre (1995, p. 413), considerado um dos três maiores intérpretes do Brasil, definiu as origens étnicas dos alunos que freqüentaram os colégios jesuíticos da seguinte forma:
Descobriram os primeiros missionários que andavam nus e à-toa pelos matos meninos quase brancos, descendentes de normandos e portugueses. E procuram recolher aos seus colégios esses joões-felpudos. Foi uma heterogênea população infantil a que se reuniu nos colégios dos padres nos séculos XVI e XVII: filhos de caboclos arrancados aos pais; filhos de normandos encontrados nos matos; filhos de portugueses; mamelucos; meninos órfãos vindos de Lisboa. Meninos louros sardentos, pardos morenos, cor de canela. Só negros e moleques parecem ter sido barrados nas primeiras escolas jesuíticas. Negros e moleques retintos. (grifos nossos)
ealça um aspecto pouco estudado da história da educação brasileira no período colonial: a educação de crianças negras nos colégios jesuíticos. As crianças eram filhas de escravos desafricanizados, que nasciam nas fazendas de propriedade da Companhia de Jesus. A literatura, tradicionalmente, situa a empresa jesuítica relacionada apenas com as crianças brancas, indígenas, mamelucas e mulatas. A base da conversão dos "gentios" ao cristianismo era a catequese, realizada pelo ensino mnemônico. Nesse contexto, as crianças negras sofriam dois tipos de violência: nasciam marcadas pela maldição