Educação Especial
O lúdico é um campo vasto e muito rico, podendo ser interpretado como modo de expressão/representação da criança sobre o mundo, num formato de "leitura" e "escrita" (não-gráfica) sobre o real. Ler e escrever se consolidam por meio das impressões que as crianças constroem sobre o seu universo cultural e histórico, representado nas brincadeiras por meio da composição de cenários, na assunção de papéis e organização da cena lúdica. O corpo, os gestos, as palavras, toda a expressão infantil indica "o que ela escreve", tornando possível a qualquer outro "ler" o que ela percebe, o que ela quer fazer ser entendido. Tal esfera "autoral incipiente" permite a interpretação de que a brincadeira também está configurada por uma dimensão "embrionariamente artística", na medida em que envolve dois modos específicos de exploração da "experiência sensível" da criança: a) Uma experiência "intencional" de "outridade" - A criança assume personagens, vivendo o lugar social do outro. Pode ser o outro, transitando por diferentes papéis sociais, como aponta Góes (2000, p. 123): "Ela brinca daquilo que já vivencia (filha); daquilo que ainda não pode ser (mãe, médica, professora); daquilo que o código social censura (ladrão, bêbado, seqüestrador); daquilo que aspira ser (pai, mecânico, astronauta); e assim por diante", ampliando a compreensão sobre si mesma e o mundo que a rodeia. b) Uma vivência "performática" incipiente - A criança, ao ser o outro, ao brincar de assumir papéis sociais, constrói cenários representados ou cenários conjeturais, que (também) podem estar direcionados para uma "platéia" fora do espaço da brincadeira, que está deslocada da cena, ou seja, para "o outro que a contempla na representação"; um parceiro, um adulto, ou mesmo um pesquisador.
Nesse sentido, por meio de uma detalhada discussão do capítulo "O autor e o herói" do livro, diz que a estética da criação verbal (BAKHTIN, 1992), sugere a existência de