EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ _Adorno
Para a educação, a exigência que Auschwitz não se repita é primordial. Precede de tal modo quaisquer outras, que, creio, não deva nem precise ser justificada. Não consigo entender como tenha merecido tão pouca atenção até hoje.
Justificá-la teria algo de monstruoso em face da monstruosidade que ocorreu. Mas que a exigência e os problemas decorrentes sejam tão subestimados testemunha que os homens não se compenetraram da monstruosidade cometida. Sintoma esse de que subsiste a possibilidade da reincidência, no que diz respeito ao estado de consciência e inconsciência dos homens. Todo debate sobre parâmetros educacionais é nulo e indiferente em face deste - que
Auschwitz não se repita. Foi a barbárie, à qual toda educação se opõe. Fala-se da iminente recaída na barbárie. Mas ela não é iminente, Auschwitz é a própria recaída; a barbárie subsistirá enquanto as condições que produziram aquela recaída substancialmente perdurarem. Esse é que é o receio todo. A pressão da sociedade perdura, não obstante toda a invisibilidade do perigo hoje. Ela impele os homens até o indescritível, que em Auschwitz culminou em escala histórica.
Entre as intuições de Freud que realmente alcançaram também a cultura e a sociologia parece-me das mais profundas que afirma que a civilização produz a anticivilização e a reforça progressivamente. Seus escritos sobre "o malestar na cultura" e a "psicologia das massas e análise do ego", mereceriam a mais ampla difusão precisamente no contexto de Auschwitz. Se no próprio princípio da civilização está implícita a barbárie, então repeti-Ia tem algo de desesperador.
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Reproduzido de ADORNO, T. W. Erziehung nach Auschwitz, In: –.
Stichworte; kritische Modelle 2. Frankfurt, Suhrkamp, 1974. Trad. por Aldo
Onesti.
A consciência de que o retorno de Auschwitz há de ser impedido é ofuscada pelo fato de que devemos conscientizarnos desse desespero se não quisermos cair no palavrório
idealista.