Ecossistema bucal
Nós vivemos, desde o nosso nascimento, cercados por um número incontável de microrganismos. Muitos deles (calcula-se que cerca de 100 trilhões), na verdade, estabeleceram uma morada perene na superfície de nossa pele, de nossos dentes e das mucosas que têm contato com o meio externo. Assim, vários dos nossos compartimentos orgânicos abrigam uma série de microrganismos que infectam esses locais mesmo no estado de saúde, constituindo as microbiotas próprias de cada local.
Começando a raciocinar em termos de Ecologia — razão deste capítulo — devemos entender, primeiramente, o motivo da não existência de uma microbiota única, igual em todas as regiões do nosso corpo; entender, por exemplo, por que a microbiota nasal é bastante diferente da vaginal e, ambas, da intestinal. Uma boa explicação inicial reside no fato de cada região ser um habitat diferente, de cada região oferecer diferentes condições ambientais. Existem diferentes composições teciduais, portanto diferentes receptores para a aderência e diferentes nutrientes necessários para cada microrganismo, diferentes teores de umidade, diferentes pH, maior ou menor teor de oxigênio, diferentes outros fatores, e é evidente que só colonizam uma certa região, um certo habitat, os microrganismos que se adaptam à sua condição ecológica. Não é por acaso, pois, que o termo “ecologia” é originado do grego óikos, que significa “casa, habitação”.
Existe, porém, no nosso corpo, um órgão ecologicamente especial, um local que, em função de sua complexidade anatômica, não alberga uma microbiota única, mas várias microbiotas com diferenças marcantes em suas composições qualitativa e quantitativa: esse local é a cavidade bucal, o nosso campo de atuação médica. Na verdade, devido à existência dos dentes e do periodonto, a boca não é um sítio ecológico único, mas apresenta vários sítios ecológicos, cada qual com características ambientais próprias e, conseqüentemente, cada qual com sua microbiota peculiar. Assim,