EBOLA E CULTURA AFRICANA
Aldeões acreditam que dizer 'ebola' em voz alta invoca o vírus e ignorar a existência da doença garante proteção
Enquanto autoridades e órgãos de saúde locais e internacionais tentam conter o avanço da doença, cresce o pânico em meio à população dos países afetados. “Muitos enxergam o ebola como uma maldição ao invés de uma enfermidade”, disse ao site Global Post Fabio Friscia, coordenador da campanha de conscientização da ONU conduzida em Guiné, Libéria e Serra Leoa.
Grupos de ajuda humanitária como o Médicos sem Fronteiras (MSF) e a Cruz Vermelha estão enfrentando cada vez mais resistência em seus trabalhos nas aldeias e povoados rurais da região: muitas comunidades estão fazendo barricadas e reagindo com hostilidade à presença dos agentes de saúde, considerando-os os culpados pela epidemia.
“Não queremos nenhum contato com ninguém, todos os lugares que aquelas pessoas passaram foram atingidos pela doença”, disse ao NY Times Faya Iroundouno, presidente da liga da juventude que impediu a entrada de uma comitiva do Médicos sem Fronteiras em Kolo Bengou, Guiné. O lugar é um dos 12 vilarejos do país que negaram o acesso à organização onde se suspeita haver diversas pessoas contaminadas.
Além de serem encarados como centros disseminadores do ebola, os hospitais são vistos como uma verdadeira sentença de morte – a suspeita local de que os pacientes infectados estão sendo executados nos postos de saúde vem ganhando popularidade. Com a crescente desconfiança em relação às técnicas da medicina ocidental, os habitantes da região recorrem com frequência ao tratamento de curandeiros e feiticeiros, crendo que a doença seja de natureza espiritual. Cientes da influência destes líderes religiosos, as autoridades os estão conscientizando para