Drummond e cidadania
Guimarães pretende é analisar a relação fundacional existente entre a poesia de Carlos Drummond de Andrade e a dinâmica social conformadora da experiência de cidadania no Brasil.
A contemplação, a observação, a descrição, o sentimento e a experiência de Drummond, deduzidas na forma de seus poemas, nos servem de “bússola” para compreender os caminhos prosseguidos pela cultura brasileira do século XX. Por outro lado, se quisermos atingir o âmago da sensibilidade do poeta, teremos que penetrar no seu reino das palavras e identificar esse mesmo cerne “público” (e, ao mesmo tempo, íntimo) de sua poesia, que lhe serve de critério de interpretação. Trata-se de uma via de mão dupla. Quero dizer que Drummond assume uma referencialidade bilateral em nosso estudo, pois o mesmo poeta que tem o “poder” de interferir na compreensão da formação do cidadão brasileiro, também tem o “poder” de atrair desse mesmo cidadão o motivo e o substrato de sua poesia
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. É este o
“poder de imantação”, que corresponde àquele “poder de irradiação”, de que nos fala Juarez Guimarães
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. O poeta nutre-se da sociedade, que se nutre do poeta. A grande chave para a compreensão da poética de Drummond, segundo Carpeaux e Guimarães, é entendê-la como poesia pública, esse é o principal “critério” de sua poesia. “Não partidária ou engajada, muito menos panfletária” 3
, mas mais do que isso, uma poética que mesmo com “altíssima subjetivação”, não se esquiva ao confronto com o problema do coletivo. Como aponta Wisnik, é uma poesia que “inaugura, no Brasil, uma reflexão sobre o
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