Doutora
Regina Maria Azevedo
Sempre amei as palavras; quando menina, era hábil com os verbos, disparando suas flexões feito metralhadora sem errar tempo ou pessoa. Confesso que, atualmente, certas conjugações me deixam confusa; e olhe que não é questão de idade ou de gramática, mas de semântica.
Conjugar admite o sentido de flexionar; mas o radical latino conjugatio deu origem a junção, de onde deriva a variante, cônjuge, “cada uma das pessoas ligadas pelo casamento em relação à outra”. Nesse ponto começa a confusão, pois o sagrado matrimônio, nos moldes tradicionais, impõe uma série de direitos e obrigações que nem sempre me pareceram admitir significativa flexibilidade.
Ficar, estar, namorar, casar: Cada um desses verbos traduz, a seu modo, a idéia de unir(-se a) alguém, de compartilhar algo, variando apenas o grau de compromisso assumido.
No tempo de nossas avós – refiro-me a meados do século passado –, conjugá-los era tarefa bem mais fácil, pois os relacionamentos se efetivavam através de três ações seqüenciais e bem delineadas: namorar, noivar e casar. Cada qual definia claramente os níveis de comprometimento implícitos – do mais pueril e romântico, passando pelo consentimento e aprovação familiares, até culminar com o contrato assumido no papel, nos moldes da lei, com a sociedade – e, quase sempre, Deus – por testemunha.
A década de 70 tratou de popularizar dois novos verbos – desquitar-se e divorciar-se -, causando certo estranhamento, porque, na contramão do sentido de união, estes se referiam às idéias sombrias de dissolução, ruptura e separação. Ao longo do tempo, porém, fomos aprendendo a lidar com eles, associando ao seu sentido um lado positivo, como as idéias de liberdade, de nova oportunidade, de passar a vida a limpo – de preferência, sem as mazelas e erros cometidos no conluio anterior. Pouco a pouco, ambos passaram a integrar nosso vocabulário cotidiano: “divorciei-me”,