Doutor
VICTOR EUSTÁQUIO
Uma visão do mal como acto estratégico de Deus
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Título original: O Carrossel de Lúcifer © Autor: Victor Eustáquio © Todos os direitos reservados para a publicação desta obra em língua portuguesa, excepto Brasil, reservados por Bertand Editora Lda. Rua Prof. Jorge da Silva Horta, 1 1500-499 Lisboa Telefone: 21 762 61 00 Fax: 21 762 61 50 Correio electrónico: editora@bertrand.pt Janeiro de 2008
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À Sara e ao Pedro, porque só neles a desordem faz sentido.
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“Os homens acabam sempre por se revelar maus se a necessidade não os obriga a ser bons.” Nicolau Maquiavel, O Príncipe
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Afirma João de Deus que no paraíso haverá leitos de penas de pato e um mar de efebos, sempre jovens, com taças e copos de bebidas transparentes e bandejas de carne de aves. Em redor, haverá um rendilhado de bananeiras entrelaçadas e de outras árvores de fruto, largas sombras, águas correntes e frescas e regatos de mel. A paisagem estará coberta de verde, em vez da cor sempre igual da areia queimada do deserto em que agora vivemos e, por todo o lado, haverá santuários de ninfas, com grandes olhos, semelhantes a pérolas genuínas, eternamente jovens e virgens. Mas tratar-se-á de uma virgindade que se renova continuamente, ao contrário do que sucede agora com as mulheres, que depressa mirram e se tornam feias. Em baixo, no inferno, delimitado por quatro colunas de fumo negro, soprará um vento abrasador e haverá enormes caldeirões de bronze com água a ferver, a única coisa que será permitido beber aos que lá forem parar. Os homens terão ventres pútridos e os lábios iguais aos dos camelos. Sempre vigiados pelos guardiões de Lúcifer, serão obrigados a lançar pedras de fogo para a boca e a devorar restos de carne putrefactos e fedorentos. As mulheres estarão dependuradas pelos seios e serão chamuscadas pelas labaredas do fogo eterno. É por isso que João insiste que não se deve comer com a mão esquerda, pois essa é aquela com que o