Doutor
Antigamente, quando eu voltava para casa, eu saltava do ônibus e andava um bocado a pé, até chegar lá para o lado da água, depois andava um pedaço pelas pontes de madeira... chegava cansada, com os pés doendo... mas era bonito: eu sentava, tirava o sapato e ficava com os pés na água, vendo o dia acabar... a água era limpinha, e cheia de peixinhos ... os barrigudinhos vinham e ficavam bicando, dando beijinhos nos meus pés...1
A Maré a que se refere o relato é um conjunto de favelas no Rio de Janeiro, que se formou sobre uma região alagada, a partir dos anos 1940. Numa paisagem bucólica de praias, mangues e barcos de pescadores, surgiram alguns casebres sobre terra firme e, posteriormente, palafitas conectadas por pequenas pontes de madeira. O mar e a maré foram, desde sempre, presenças marcantes no lugar. A maré ficou no nome e o mar foi afastado, bloqueado, escondido dos moradores.
A região da Maré, que constitui atualmente o chamado de complexo da Maré, é um conjunto de favelas situado na zona norte da cidade. Totalizando mais de 132 mil habitantes2 em dezesseis comunidades3, a região corresponde à XXX Região
Administrativa da cidade e é considerada como um bairro desde 1994. O bairro
Maré se localiza entre dois dos principais eixos viários municipais – a Avenida
Brasil e a Linha Vermelha - e atravessada por um terceiro, a Linha Amarela, o que faz com que muitos o considerem como uma mera região de passagem dentro da cidade. Em sua extensão, encontram-se, além das comunidades, duas grandes
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Relato de uma moradora da Maré, nos anos 1970, referindo-se a uma época anterior.
Dados do Censo Maré 2000. Em 2000, a Maré era o maior complexo de favelas da cidade.
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Atualmente as comunidades componentes são: Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Marcílio Dias, Parque
Maré, Parque Roquete Pinto, Parque Rubens Vaz, Parque União, Nova Holanda, Praia de Ramos, Conjunto
Esperança, Vila do João, Vila do Pinheiro, Conjunto