Doutor
Lígia Osório Silva *
A polêmica a propósito das origens do capitalismo tem envolvido pesquisadores das mais variadas tendências da historiografia econômica, merecendo todavia um destaque especial os historiadores marxistas, pelo teor das suas contribuições na problemática da transição do feudalismo ao capitalismo. Este texto da historiadora Ellen Wood representa mais uma valiosa contribuição para a história econômica da Época Moderna.
O seu ponto de partida é a crítica da vertente historiográfica que considera o capitalismo uma evolução natural da atividade humana, e seu desenvolvimento inevitável, sempre que a sua marcha não encontre obstáculos externos. O capitalismo teria surgido no
Ocidente europeu exatamente porque ali o desenvolvimento do comércio se beneficiou da inexistência de limitações às práticas econômicas urbanas. Esta visão nega ao sistema capitalista uma especificidade própria, confundindo-o com a generalização das atividades milenares do comércio, respaldando-se no fato inquestionável de que o novo sistema econômico incorporou todas as antigas práticas, desenvolvendo-as através do crescimento e da integração dos mercados. E, sem dúvida, se as cidades tiveram um papel destacado neste processo, entretanto, a excessiva ênfase dada a este papel no surgimento do capitalismo acabou levando muitas vezes à visão dos vários “capitalismos” presentes ao longo da história, ou ao equívoco da sua identificação simplista com o impulso inato da
“busca do lucro.”
Ao contrário desta vertente, E.Wood, determinada a pôr em destaque a originalidade da nova forma de produção que se tornaria dominante na Inglaterra no final do século XVIII, convida-nos a voltar nossa atenção para a agricultura, ao invés de seguir a senda batida da identificação entre capitalismo e crescimento das cidades. Insistindo no caráter historicamente distinto do modo de produção