Dossiê
DOSSIÊ “MÍDIA E POLÍTICA”
Apresentação Luis Felipe Miguel
“Para a maioria das pessoas, só existem dois lugares no mundo: o lugar onde elas vivem e a televisão”. A frase da personagem de Ruído branco, o romance de Don DeLillo (1987, p. 69), sintetiza a presença da mídia – que a televisão simboliza, na qualidade de meio dominante – no mundo contemporâneo. Dela provêm, direta ou indiretamente, por meio de noticiários ou programas de entretenimento, quase todas as informações de que dispomos para situarmo-nos no mundo. Por meio dela, ganhamos acesso a uma experiência vicária que multiplica muitas vezes as nossas próprias vivências. Estamos tão imersos no discurso midiático que, muitas vezes, nem percebemos a extensão de sua presença1 . Mas, quando paramos para refletir, verificamos que o impacto da mídia é perceptível em todas as esferas de nossa vida cotidiana. Já o advento da imprensa diária, no século XVIII, fez da leitura dos jornais um novo ritual, sobretudo para as camadas urbanas mais cultas. No século XX, o rádio e, em seguida, a televisão alteraram toda nossa gestão do tempo, seja pelo surgimento da simultaneidade da informação, seja pela adequação da rotina à emissão dos programas. Na virada para o século XXI, nas sociedades urbanas, o consumo de mídia era uma das duas maiores categorias de dispêndio de tempo, atrás apenas do trabalho (CASTELLS, 1999, p. 358). Ainda mais significativa do que o aumento do tempo dedicado ao consumo da mídia é a ampliação exponencial da quantidade de informações de que cada indivíduo dispõe, para além de seu círculo
1 Este parágrafo e os seguintes resumem partes de Miguel
de convívio direto. Hoje, estamos expostos a todo tipo de informação: fatos da economia e da política, publicidade comercial, fofocas, notícias de divulgação científica – em uma quantidade antes inimaginável. O que chega a cada um de nós, individualmente, porém, é apenas uma parte diminuta das