dores existenciais
Originalmente, desde os primeiros primatas, a dor se constituiu em um parecer físico, um aviso sobre algo que está provocando dano, sobre algo cujo funcionamento causa perigo ou ruína, ou seja, um sinal. No entanto, a interpretação do sinal pode promover curiosidades e desvios peculiares. Exemplo: a pessoa não sabe lidar com o amor e, ao amar, sente dores existenciais como a angústia, a ansiedade, e mesmo sintomas físicos. Para ela, o amor pode vir acompanhado de dor e um pode não passar sem o outro. O escritor angolano José Eduardo Agualusa, em sua obra, nos coloca diante disso com o exemplo que segue: “O amor é uma renúncia. Amar alguém é desistir de amar outros, é desistir por esse amor do amor de outros. Eu desisti de tudo. A partir desse dia, dei-lhe todos os meus dias. Entreguei-lhe os meus sonhos, os meus segredos, as minhas convicções mais profundas. Não me queixo! Não sou ingênua nem estúpida. Quando digo que o amor é uma renúncia, quero dizer que foi assim para mim. Para Bill foi sempre uma outra coisa. Eu sabia que ele reparava noutras mulheres, e que outras mulheres reparavam nele”, diz a personagem.
Você sabe diferenciar a dor de uma cicatrização da dor de um ferimento ocorrido recentemente? A diferença pode mostrar como lidar com uma dor que parece ser igual a qualquer outra dor. Onde estão os pontos de sensibilidade à dor em uma pessoa? Há dores pontuais, restritas a eventos e especificidades; há dores que se esparramam por longos trechos existenciais; há dores deslocadas, como aquelas que encontramos nas lembranças. A aproximação do ponto de dor pode não ser suficiente para que ela apareça; há dores que se manifestam apenas nas configurações mais intrincadas dos discursos.
Como funcionam as equivalências entre dores físicas e mentais, se assim separarmos cartesianamente as coisas? Há quem tolere bem dores da alma e tolere pouco as dores físicas; existe o contrário também. Entre as relações temos elementos insólitos,