Dops: o monstro brasileiro que devorou seus filhos

DOPS: O monstro brasileiro que devorou seus filhos

A mitologia grega tem dado uma grande contribuição para a nossa compreensão de mundo e de humanidade, através dos mitos nos identificamos com situações que se repetem ao longo da história de uma forma padronizada, como a inveja, o ciúme, a traição, a luta pelo poder e etc.
Segundo Sêneca, os mitos nunca aconteceram, mas sempre existiram, e entre os mitos mais famosos destacamos o do Titã Cronos (Saturno), que de acordo com o Livro de Ouro da Mitologia, havia destruído seu pai
Urano e monopolizado o poder, e temia que um de seus filhos fizesse o mesmo com ele. Por isso devorou todos os seus próprios filhos, exceto Zeus (Júpiter), a quem sua mãe havia escondido e que posteriormente libertou seus irmãos do estomago do monstro.
Tomando por base este mito, e traçando um paralelo entre ele e a luta pelo poder, analisemos a criação e a atuação do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), instrumento usado pelo Estado Brasileiro no período da ditadura para aplicar a censura a tudo aquilo que fosse diferente de sua ideologia.
O DOPS foi criado através da Lei 2304 de 30/12/1924 com o intuito de apreender e destruir os livros, folhetins ou qualquer outra manifestação que apresentasse algum conteúdo de denuncia social, que segundo a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, “...é a que mais incomoda qualquer regime, seja ele de esquerda ou de direita.” De acordo com a historiadora, “... este órgão agia como uma espécie de “polícia de ideias”, buscando exterminar os “hereges da leitura”, mutilando a cultura nacional e a disseminação do conhecimento”. Ser escritor, jornalista, intelectual, tipógrafo, editor, professor e até estudante no período de 1924 a 1983 não era nada fácil, ou louvável, ao contrário, era o principal alvo das medidas repressivas do Estado. O governo oficial assumiu nesse período a identidade de forças do “Bem”, se contrapondo as forças do “Mal”, construiu na mentalidade da sociedade