Dona flor e seus maridos conclusão
Modernismo de segunda fase.No melhor estilo de crônica de costumes, Dona Flor e seus dois maridos descreveu a vida noturna de Salvador, seus cassinos e cabarés, a culinária baiana, os ritos do candomblé e o convívio entre políticos, doutores, poetas, prostitutas e malandros. Uma das mais conhecidas personagens femininas do autor, dona Flor encarna contradições bem brasileiras. Dividida entre o fiel e comedido Teodoro e o extravagante e voluptuoso Vadinho, ela decide viver o melhor de dois mundos. A narrativa faz um retrato inventivo e bem-humorado das ambigüidades que marcam o Brasil, país dividido entre o compromisso e o prazer, a alegria e a seriedade, o trabalho e a malandragem.
Jorge Amado contava que para escrever Dona Flor e seus dois maridos tinha se inspirado numa história que ouvira muito tempo antes: a de uma viúva que se casara novamente mas continuava sonhando com o finado marido. Para compor os traços de Vadinho, o escritor lembrou-se de um amigo de juventude que vivia “perdendo dinheiro e ganhando mulheres”. Além desse material de memória, o romance é entremeado de participações de personagens reais, como Dorival Caymmi, Pierre Verger, mestre Didi, Sílvio Caldas e Carybé. Escrito em Salvador na segunda metade de 1965, o livro foi lançado no ano seguinte, com grande sucesso. Dona Flor era a segunda personagem feminina marcante do autor, depois de Gabriela. A tiragem inicial, de 75 mil exemplares, esgotou-se rapidamente. Um dos maiores sucessos do autor, o romance ultrapassou as cinqüenta edições e foi publicado em mais de vinte países. Tamanha popularidade diz respeito à singularidade da história e ao humor do enredo, mas também a uma visão particular da sociedade brasileira. Para o antropólogo Roberto DaMatta, em Dona Flor e seus dois maridos, “Jorge Amado faz que a ambigüidade, o triângulo amoroso e o ponto de vista feminino se transformem em valores e deixem de ser o pólo negativo da ordem social ou da condição