Dominados e dominadores: as mulheres na sociedade dos homens
As mulheres na sociedade dos homens
Suellen Andrade Barroso(
Em épocas remotas, as mulheres se sentavam a proa das canoas e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens montavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo.
Assim era a vida entre os índios onas e os yaganes, na Terra do Fogo, até o dia em que os homens mataram todas as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los.
Somente as meninas recém-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também acreditaram suas filhas e as filhas de suas filhas.
Durante muito tempo a mulher foi representada como o inverso do homem, identificada pelo seu corpo e pela sua sexualidade, um “macho deformado”, carente do princípio da alma e, portanto, naturalmente um ser inferior. Por mais paradoxal que isto possa parecer, as próprias mulheres partilharam semelhante pensamento com o restante da sociedade, transfigurando-se em mentalidade a crença na inata inferioridade feminina.
Por esta razão, a rigor, esperou-se que a mulher se mantivesse submetida à autoridade do homem – pai ou marido – e manifestasse os traços considerados caracteristicamente femininos: a fragilidade, a inocência, a abnegação e a obediência, sob pena de sanções sociais, umas vezes ostensivas, outras vezes disfarçadas, mas sempre eficientes. A virgindade, por exemplo, foi, até bem pouco tempo, um tabu, cuja violação significava uma verdadeira desgraça na vida da mulher, em alguns casos respingando no deflorador, através dos casamentos forçados ou processos por crime de sedução. Entretanto, numa sociedade muito mais condescendente com os varões, é