Domenico Scarlatti
Artista estrangeiro contratado por D. João V para iniciar a infanta Maria Bárbara na arte musical
O poder curativo da sua musica liberta Blimunda da sua estranha doença, permitindo-lhe cumprir a sua tarefa
Scarlatti é cúmplice silencioso do projeto da passarola
É, ainda, Scarlatti que dá a noticia a Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu
A música do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva , e o atingir da plenitude da vida.
Bartolomeu de Gusmão, esse, aliado em diálogo excecional com o músico Scarlatti, o único que pode de raiz compreender as suas congeminações aladas, representa a possibilidade de articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo. São os caminhos da ficção os que mais justificadamente conduzem ao encontro da verdade.
Estrangeiro, veio como professor do irmão de D. João V, o infante D. António, passando depois a ser professor da infanta D. Maria Bárbara. Exerceu as funções de mestre-de-capela e professor da casa real de 1720 a 1729, tendo escrito inúmeras peças musicais durante esse tempo. No contexto do romance, para além do seu contributo na construção da passarola é determinante na cura da doença de Blimunda; durante uma semana tocou cravo para ela, até ela ter forças para se levantar ("Durante uma semana (...) o músico foi tocar duas, três horas, até que Blimunda teve forças para levantar-se, sentavase ao pé do Cravo, pálida ainda, rodeada de música como se mergulhasse num profundo mar, (...) Depois, a saúde voltou depressa" - pp. 191-2). Scarlatti é cúmplice silencioso do projeto da passarola ("Saiu o músico a visitar o convento e viu Blimunda, disfarçou um, o outro disfarçou, que em Mafra não haveria morador que não estranhasse, e (...) fizesse logo seus juízos muito duvidosos" p. 231). É, ainda, Scarlatti que dá a notícia a Baltasar e Blimunda da morte