Dois rios de um transtorno obsessivo-compulsivo
A porta do banheiro estava aberta, e vi a pia repleta de sabonetes, a minha mãe em pé, cabelo amarrado para trás, esfregando as mãos sob a água. E vi que a água escorrendo, além de espumosa, era vermelha, e o vermelho vinha das mãos da minha mãe, do sangue dela, das mãos que ela esfregava havia horas: quantas? (Dois Rios: Salem, 2011, p. 25).
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é, segundo APA (2002 apud Cordioli, 2008, p. 467) um transtorno heterogêneo que se caracteriza pela presença de obsessões e/ou compulsões que consomem tempo ou interferem de forma significativa nas rotinas diárias do indivíduo, em seu trabalho, vida familiar ou social, e causam acentuado sofrimento. O TOC afeta de forma significativa o convívio entre o individuo obsessivo-compulsivo e sua família. Os rituais realizados pelos portadores de TOC são os principais agentes dos conflitos, pois é imposta à família a aceitação e, de certa forma, a participação nesses rituais, já que se vêem obrigados a acomodar-se diante dos sintomas.
Diante da gravidade da doença e da importância de se falar sobre ela, na obra Dois Rios, Tatiana Salem apresenta um caso de Transtorno obsessivo-compulsivo. A mãe de seus personagens principais mostra-se refém de alguns rituais, como por exemplo; arrumar constantemente quadros, lavar as mãos, etc. O que interferiu drasticamente na relação entre mãe e filhos.
Pudesse, eu penetrava a sua mente e assistia às imagens inoportunas. Por que essa obsessão com a distância exata dos objetos, com a limpeza da casa? Por que não pisar no rejunte do chão? Por que conferir se a porta está fechada repetidas vezes? Medo? Mas medo de quê? Eu tento explicar, tento dizer: “Mãe, as suas ideias não são a realidade. A realidade, mãe, é muito mais serena de que você imagina, não é tão má assim.” Mas ela não me escuta. Ou não quer me escutar. (Dois Rios: Salem, 2011, p. 29).
Os rituais realizados por indivíduos portadores de