Dois progressos
O progresso – palavra complicada. Assim, de súbito, pode aparentar entregar-nos seu significado incontinenti, imediatamente após uma leitura leviana: “Progresso? Ah, sim, progresso, progredir, ir pra frente, né? Sempre melhorar” – ledo engano. Ledo engano, sim, pois, de fato, não estamos em busca do significado semântico vulgar de ‘progresso’, mas sim d’O progresso’, com ‘O’ maiúsculo, no seu sentido mais abrangente para a história humana, uma vez que, a partir de fins do século XIX, ganhando uma aceitação cada vez maior através do tempo, até chegar nos dias de hoje com fôlego redobrado, a idéia ou noção vulgar de Progresso tem servido aos mais diferentes propósitos, desde dar suporte ao autoritarismo dos fascismos, onde quer que ele tenha surgido, até permear as ideologias inerentes aos frutos mais recentes do capitalismo, como o neoliberalismo e a globalização. Por conta disso, não foram poucos os pensadores e filósofos que se debruçaram sobre este tema, numa tentativa de elucidá-lo num caráter mais completo. O presente trabalho tem como objetivo justamente investigar o que possa significar este ‘Progresso’ a partir da interpretação de uma citação – superficialmente, talvez – obscura de Adorno, em que ele tece um comentário sobre o mesmo. Eis a citação: “Progresso significa sair do encantamento – também o do progresso, ele mesmo natureza – à medida que a humanidade toma consciência de sua própria naturalidade, e pôr fim à dominação que exerce sobre a natureza e [dominação] através da qual, a natureza se prolonga. Neste sentido, poder-se-ia dizer que o progresso acontece ali onde ele termina.” (ADORNO) Com o intuito de caminhar na direção desta interpretação, talvez se faça premente uma conceituação geral mais elaborada do significado de Progresso. Como base para tal, utilizamos as primeiras linhas do verbete homônimo no qual Abbagnano traça tal conceito: