Dois conceitos de Liberdade
Quando há consenso sobre os fins, restam apenas questões relativas aos meios. Essas questões não são políticas, mas técnicas. Por isso, os que confiam em que algum fenômeno descomunal — como o triunfo definitivo da razão ou a revolução do proletariado — poderá transformar o mundo acreditam que todos os problemas políticos e morais podem ser transformados em problemas técnicos.
Há mais de cem anos, Heine advertiu os franceses a não subestimarem o poder das idéias. No entanto, os filósofos estranhamente parecem não ter consciência dos devastadores efeitos de suas atividades. Os melhores desdenham a política; no entanto, a política permanece indissoluvelmente ligada a qualquer forma de indagação filosófica. Negligenciar o pensamento político é entregar-se a crenças políticas primárias e desprovidas de críticas. Em conseqüência, nossas atitudes e ações permanecem obscuras para nós mesmos, a menos que compreendamos as questões mais relevantes de nosso tempo.
A principal dessas questões é a guerra aberta travada entre dois sistemas de idéias que propõem respostas distintas e conflitantes à questão central da política — a da obediência e da coação. “Por que devo obedecer a alguém?” “Por que não devo viver como me agrada?” “Preciso obedecer?” “Se eu desobedecer, poderei ser coagido?” “Por quem e até que ponto, e em nome de que e em favor de quê?”
Coagir um indivíduo é privá-lo da liberdade — mas, que liberdade? Como felicidade e bondade, e como natureza e realidade, o significado do termo “liberdade” é ambíguo. Não proponho discutir os mais de duzentos sentidos do termo, usado pelos historiadores das idéias. Proponho examinar apenas os seus dois sentidos principais.
O primeiro sentido político de liberdade, que (com base em muitos precedentes) chamarei de “negativo”, vem incorporado na resposta à pergunta “Qual é a área em que o sujeito — um indivíduo ou um grupo de indivíduos — está livre, ou se deveria permitir que fosse, da