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Sócrates começa a sua defesa advertindo que dirá unicamente a verdade e, ao mesmo tempo, afirmando que seus acusadores nada disseram de verdadeiro, embora tenham sido tão convincentes que quase fizeram o próprio Sócrates crer que era culpado pelo que não fez. Demarcase aqui a contraposição entre a sofística e a filosofia : Sócrates, representante maior desta na obra platónica, alega que, apesar de não ter a experiência de falar em tribunais e não dominar a retórica própria desse ambiente, pronunciará exclusivamente a verdade, sua preocupação como filósofo; seus denunciadores, ao contrário, não teriam compromisso com ela, mas apenas com a persuasão, com o uso da retórica para obtenção de seus interesses.
O filósofo resgata as acusações que pesam sobre ele, desde as mais antigas, que não faziam parte do processo, mas poderiam influenciar a decisão dos juízes, até as mais recentes e oficiais. As denúncias que pesam são de não reconhecer os deuses que o
Estado reconhece, de introduzir novos cultos e, também, de corromper a juventude, pelo que receberia pena capital, caso fosse julgado culpado. Essa acusação é assinada por Meleto, que representa os poetas , mas não somente ele; também Ânito, representante dos políticos e artífices , e Licon, ligado aos oradores , tendo os três o mesmo direito de palavra no desenvolvimento do processo.
Pouco se sabe sobre Meleto. Teria sido um tragediógrafo , cujos motivos para acusálo
Sócrates alega desconhecer. Ânito é tido como o provável mentor do processo. Era um cidadão importante, pertencente a uma família de ricos comerciantes de curtumes ; fora general a serviço de Atenas, durante a
Guerra do Peloponeso
. Destacouse no cenário político ateniense por ser contra os
Trinta Tiranos
, ganhando simpatia