Do contrato social
As causas de quaisquer ações movidas pelo Estado são vigorosas e simples, não existeminteresses confusos e contraditórios, o bem-comum mostra-se com evidência e não exigesenão bom-senso para ser percebido. As vontades são reconhecidas universalmente e nemmesmo cabem discussões nem eloqüência para converter em lei o que cada um já resolveufazer.Algumas pessoas visualizam Estados mal constituídos desde suas origens e, então,chocam-se com a impossibilidade de dispor seu Estado como órgão segundo tal imagem.Quando os interesses particulares começam a se fazer sentir, o interesse comum se altera eencontra oponentes. Assim, levantam-se contradições, debates, e o melhor parecer não éadmitido sem disputas.A vontade geral é sempre constante, inalterável e pura, mas está subordinada a outrasque a sobrepujam. Excetuado esse bem particular, cada qual deseja o bem geral em seupróprio interesse e com o mesmo vigor que qualquer outro. Quanto mais a opiniõesaproximam-se da unanimidade, tanto mais prevalece a vontade geral.Há somente uma lei que, por sua natureza, exige um consentimento unânime: é o pactosocial, pois a associação civil é o mais voluntário de todos os atos do mundo; cada homemtendo nascido livre, ninguém pode sujeitá-lo sem seu consentimento. Os opositores serãoestrangeiros entre os cidadãos.O cidadão consente todas as leis, mesmo as que são aprovadas contra sua vontade.Trata-se da vontade geral. Quando se propõe uma lei na assembléia do povo, o que se lhepergunta não é se aprovam a propostaou se rejeitam, mas se ela está de acordo com avontade geral que é a deles.As eleições do príncipe e dos magistrados são realizadas de duas maneiras: a escolha e osorteio. As eleições por sorteio apresentariam poucos inconvenientes numa verdadeirademocracia, onde, sendo todos iguais quer pelos costumes e talentos, quer pelos preceitos epela fortuna, a escolha se tornaria quase indiferente. Mas não existe verdadeira