diversos
Por Nelson José de Camargo*
Filosofia e literatura têm diferenças e semelhanças. Ambas usam a linguagem para comunicar algo a alguém. Na Filosofia, o principal objetivo é expressar conceitos, ideias. Na literatura, existe a narrativa, isto é, o ato de contar uma história. No entanto, a diferença entre uma obra literária e uma filosófica é mais sutil do que pode parecer à primeira vista. Os diálogos de Platão, por exemplo, poderiam muito bem ser enquadrados nas duas categorias – literatura e filosofia.
Ninguém dirá que Kant foi um literato – no sentido de que seu texto tem elegância e estilo dos grandes escritores – mas o que dizer de um Nietzsche? Poemas e aforismos, tão frequentemente empregados pelo autor do Zaratustra, são formas literárias. Rousseau foi autor de um romance de sucesso na época: A bela Heloísa. Sartre tornou-se conhecido não apenas por sua filosofia, mas também pelos seus romances. E poucos escritores são tão filosóficos como Thomas Mann e Machado de Assis. A Filosofia, como diz Wittgenstein, deve “tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos”[1]. Nem sempre a literatura é assim: basta ler autores obscuros como Joyce para comprovar.Para muitos, os textos filosóficos são obscuros e de difícil interpretação. Isso pode até ser verdade em alguns casos, mas na maioria das vezes o que ocorre é que uma obra filosófica é lida apressadamente e sem que o leitor tenha o devido preparo para compreendê-la. A Ética de Spinoza, por exemplo, é uma leitura extremamente árida à primeira vista. Mas se compreendermos a estrutura da obra, percebemos o quanto é genial. Aqui encontramos uma diferença fundamental entre filosofia e literatura: não se lê uma obra filosófica da maneira como se lê um romance. É preciso voltar no texto, ir aos comentadores, comparar o que é dito em um trecho com o que é dito em outro, verificar a repercussão que as ideias filosóficas tiveram na época em que foram