ditadura militar
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão.
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão.
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer.
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão (Não esqueça a escova, o sabonete e o violão).
"Acorda amor" - 1. Chico pode estar falando como alguém que, durante a noite, acorda ouvindo barulhos estranhos e suspeita que sua casa possa estar sendo invadida, e então se vira e chama seu marido/sua esposa; 2. Também faz referência ao povo, dizendo "Acorda!" para que as pessoas percebessem o que estava acontecendo bem diante de seus narizes, uma vez que a maioria das pessoas, no início, não tinha noção do que faziam os ditadores.
"Eu tive um pesadelo agora" - Tal absurdo (líderes censurando informações, pessoas perdendo por completo sua liberdade, torturas diárias por parte do governo, etc.) parece ser coisa tão ruim que só poderia acontecer em um pesadelo.
"Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição" - Esses são os militares entrando nas casas das pessoas, sem pedir licença, acordando-os, raptando-os, e torturados sob o mínimo sinal de suspeita em relação a algo desaprovado pelo governo. É o clássico "bater primeiro e perguntar depois".
"Era a dura [...]" - Chico usa "DURA" na verdade referindo-se à "ditaDURA".