Dissertativa
CONFERÊNCIA
OS “USOS CULTURAIS” DA CULTURA
Contribuição para uma abordagem crítica das práticas e políticas culturaisi
ULPIANO T. BEZERRA DE MENESES
As reflexões aqui expostas foram selecionadas pela contribuição que imaginei poderem trazer para melhor analisar a problemática do turismo, especialmente do chamado “turismo cultural”. Elas estão enunciadas por um título que necessita de alguns esclarecimentos, a fim de delinear com precisão o horizonte que circunscrevi. Antes de mais nada, a expressão usos da cultura poderia fazer supor uma visão objetiva e reificada de cultura, como se fosse algo passível de aplicação empírica. Essa concepção seria completamente inadequada, pois a cultura não é externa aos sujeitos sociais, mas, onipresente, incorpora-se à vida social.
Também não está na mira, aqui, considerar, em nossa sociedade, o emprego da cultura como demarcador de fronteiras (identidade étnica, nacional, classificações e hierarquias sociais etc.), ou como base de sustentação do status e de alimentação do prestígio, investimento de capital simbólico, e assim por diante. Também não devo falar sistematicamente da cultura como vetor de alienação em nosso mundo e do papel desempenhado pelo consumo em suas múltiplas formas e efeitos. Muito menos o tema dominante seria a indústria cultural.
Embora questões como essas estejam forçosamente presentes no texto, não se apresentarão em primeiro plano. Na realidade, desejo apenas discutir o que normalmente se tem denominado usos e funções culturais. Com efeito, nossa sociedade formulou conceitos restritivos e deformantes de cultura, de valores culturais, de bens culturais, que se projetam também num certo tipo específico de “uso”, restritivo e gerador de deformidades,