Dislexia
Apresentação
Levando em consideração os objetivos propostos neste estudo, pude perceber que o conceito de dislexia vinculado aos processos de aquisição da escrita é vago e impreciso. De um ponto de vista etiológico, a literatura apresenta diferentes hipóteses explicativas, sem contar com evidências capazes de sustentá-las. Da mesma forma, as descrições sintomatológicas apresentam-se fragilizadas, pois fatos que dizem respeito à construção da escrita – uso indevido de letras, segmentação imprópria de vocábulos, escrita pautada na transcrição fonética, trocas ortográficas, entre outros – são descritos como sinais de um déficit, os quais se apresentam completamente desprovidos de uma investigação linguística para elucidá-los. Ainda, sobre os ditos sintomas disléxicos, cabe ressaltar que eles vêm sendo descritos em função de tarefas avaliativas assentadas em uma perspectiva de linguagem que a concebe como mero código de comunicação estanque. Com a intenção de suplantar procedimentos avaliativos que ignoram a interação sócio verbal e descrevem formas linguísticas fragmentadas e distanciadas de um contexto significativo, analisei casos de sujeitos rotulados e diagnosticados como disléxicos ou portadores de dificuldades com a linguagem escrita, sem perder de vista a construção conjunta de atividades dialógicas, o conhecimento partilhado, a constituição dos interlocutores e de suas imagens, a situação imediata de manifestação da linguagem e o seu caráter social mais amplo. Nessa direção, foi possível perceber que G.W.G. e M.S. construíram unidades textuais, de acordo com diferentes propósitos e situações, assumindo-se como locutores, ou seja, como sujeitos que tinham algo a dizer/escrever para outros, seus interlocutores leitores. Levando em conta as situações de interlocução das quais participavam, eles produziram textos diversos: escreveram cartas,