Discurso sobre a servidão voluntária - étienne de la boétie
Será que optamos pela servidão voluntária hoje em dia? Está aí uma boa pergunta. Diria eu que a grande maioria de meus conhecidos em geral e amigos não seria capaz de associar a palavra “servidão” aos tempos atuais, não que hajam demasiados sentidos para o termo mas porque ao longo do cúrriculo escolar e por tradição histórica acostuma-se, o indivíduo, a associar termos como o mencionado acima a tempos passados no mundo onde a escravidão era não abolida mas perfeitamente aceitável na sociedade, entenda, não quero dizer aqui em nenhum momento que os que se encontravam na condição de escravos de fato aceitavam sua condição. Adicionar o termo “voluntário” de forma a criar-se a expressão Servidão Voluntária não desempenha muita função em retirar o sentido denegrido da palavra servidão – e se desempenha função alguma não a desempenha de modo esperado pelo autor da expressão – levando o indivíduo ordinário a ponderar sua semântica sem muito se aproximar, ou até se aproximando em alguns pontos porém em outros divergindo completamente da idéia-chave por simples tradição. O fato é, se, hipotéticamente, eu fosse parar alguém no meio da rua – diabos, no pátio do colégio o resultado seria o mesmo – e perguntasse a essa pessoa: “Será que optamos pela servidão voluntária hoje em dia?” não poderia culpá-la se em algum ponto da discussão ela me perguntasse por que alguém em estado sano iria volutariar-se à servidão? (Nesse ponto torna-se essencial que fique clara a existência de uma diferença semântica entre servidão e trabalho, sendo inviável prosseguir sem que tal diferença seja esclarecida a fim de certificar-se que as duas partes não estariam falando de conceitos diferentes.) Voltando à questão “por que alguém em estado sano iria volutariar-se à servidão?”, apenas poderia concordar com a pessoa, ninguém em sua sã consciência iria se submeter a servidão sem um motivo obscuro por trás, eu diria. O que diria a seguir é simples: tal motivo obscuro por trás