Discurso sobre a morte
Um homem que por toda a sua vida sentiu que algo lhe faltava desiste da sua busca frustrada por algum sentido que lhe faça querer continuar. Assim, após inúmeras desilusões, ele recorre àquilo que julga ser o fim do seu sofrimento. Toma uma quantidade de pílulas e reflete calmamente sobre a vida e a não vida, enquanto esta se finda:
- Busquei a felicidade, o amor, a paz... Todas promessas do que me faria completo. Mas as minhas escolhas, ou a falta delas, nessa busca de sentido do que chamam vida levou-me a vê-la como uma prisão onde a única saída seria seu extremo oposto: a morte.
- Mas serão as duas realmente tão dicotômicas? Propus-me a um aberto questionamento sobre essa decisão, pois afinal, seria a morte a solução ideal?
- Pelo menos me livrarei de todo o sofrimento. Não terei mais que carregar o peso dessa existência sem significado. Talvez a morte seja isso mesmo, descanso, alívio...
- Mas e se não for? Seria um sacrifício em vão, ou a troca de uma pena por outra.
- Só que viver tem sido uma dura pena a cumprir. Pois mesmo sabendo que sua duração será finita e que chegará a mim o destino de toda criatura, são perpétuos os momentos de culpa, de solidão... Tendo em mim uma enorme falta que não consigo preencher, não compreendo o sentido de estar aqui.
- Parece irônico agora querer entender a morte se nunca entendi a vida. Penso que, por desde sempre estar predestinado a isso, todos os caminhos que peguei levaram para esse desfecho inevitável.
- Mas, se existe um destino, que sentido há em nascer predestinado a isso? Morrer. Não vejo sentido nenhum.
- Entretanto, teria assim a morte a finalidade de algo. Talvez um fechar de um ciclo, como nas coisas naturais.
- Será? Em função de que existiria esse ciclo? Ser adubo para alguma planta?
- Só que, por outro lado, o finito da vida concretizado na morte dá as pequenas e efêmeras coisas uma importância consciente de que o presente seria a única parte do tempo que realmente se