discurso do metodo
“Do apogeu da sociedade feudal na Europa Centro-Ocidental aos começos da sociedade capitalista situa-se um período histórico que podemos denominar como de transição. Possuindo características próprias, específicas mesmo, esse período de transição feudal/capitalista tanto pode ser designado ‘fase final do feudalismo’ como ‘era do capitalismo comercial’ e até mesmo ‘era mercantilista’. Considerando-se as confusões de natureza metodológica inerentes a estas duas últimas denominações, apesar de sua larga utilização, e a inexistência de uma expressão que defina com precisão o citado período, convencionamos denominá-lo de ‘era pré-capitalista’, embora conscientes dos defeitos também dessa expressão. (...)
Na fase final do feudalismo, isto é, no seu período de transição, a acumulação de capital aparece sob inúmeras formas ou modalidades, todas elas, porém ligadas por um aspecto comum: o caráter primitivo dessa acumulação. De fato, se considerarmos que a acumulação (ou reprodução) capitalista pressupõe a existência do modo capitalista de produção, faz-se necessário supor uma situação em que, não existindo ainda esse modo de produção, não haja, conseqüentemente, aquele tipo de acumulação. Em tal situação, por definição pré-capitalista, há certamente um processo de acumulação que, apesar de ser não-capitalista, é condição necessária, embora não suficiente, para que se possa ter, cedo ou tarde, a produção e, conseqüentemente, a acumulação capitalista propriamente dita. A esta acumulação que se realiza fora e anteriormente ao sistema capitalista convencionou-se denominar de ‘acumulação primitiva do capital’, que é exatamente a que aqui nos interessa. “Se quisermos, portanto, obter algum sentido da noção de uma acumulação primitiva anterior no tempo ao florescimento completo da população capitalista, ela deverá ser interpretada, em primeiro lugar, como uma acumulação de valores de capital – de títulos a bens existentes e que se