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Os personagens ganham vida e se movimentam em busca de um único objetivo: a sobrevivência. São pessoas sem sonhos ou qualquer ambição. Vivem entre porcos, moscas e piolhos, em casas sem pavimentação, sem água encanada, sem esgoto ou mesmo banheiros sanitários. Uma das personagens chega a admitir que defeca em sacos plásticos para em seguida os atirar no lixo da rua. O colchão desta mesma personagem não tem estrado, mas repousa sobre um formigueiro úmido e infestado de insetos. A certa altura, a coisa beira à bizarrice.
Quase chega a dialogar, numa associação mais radical, com documentários tipo Mondo Cane (Mundo Cão), produção italiana do início da década de 60. Uma coisa é certa: o diretor Padilha hora nenhuma buscou aliviar a realidade. Tudo no filme é brutal, de uma intimidade incômoda, frontal, desnuda, literalmente desnuda. São órgãos, perebas, feridas expostas e cáries horrendas em personagens infantis, fazendo assim o olho da câmera assumir uma estética quase sadiana. Segundo Padilha, durante o debate que seguiu à exibição do documentário, ele quis fazer um filme o mais simples possível, com o mínimo de alegorias e de informações que fossem além da história daquelas famílias, abordando a questão da fome no mundo a partir de uma perspectiva microscópica. Padilha disse ainda que o filme foi feito para que o público em geral possa ter uma idéia do impacto que a insegurança alimentar grave tem na vida das pessoas que estão nesta situação. A