direito
O ponto de partida destas reflexões é um desafio, expresso ardilosamente como um convite: convite ao pensar. Na qualidade de convite, sublinha o que há de essencial em algo que, para vir a ser, pode ser tudo, menos deixar de ser livre, como acontece com a própria atividade reflexiva. Entretanto, pode-se perguntar: mas pensar o quê? No espaço de liberdade que se abre, esse o quê revela-se improcedente, pois se visa não a pensar isto ou aquilo, mas a pensar com. No presente caso, a pensar com os gregos antigos.
Pensar com supõe relacionar-se com o outro, compartilhar o pensamento. De fato, poderíamos pensar com os chineses, com os árabes, com os judeus, com os índios e tantos outros, o que representa um vigoroso esforço, já que, habitualmente, pensamos contra tudo o que, para nós, é diferente. Pensar contra vem a ser a forma mais comum de nos preservarmos, pelo medo de que, compartilhando o pensamento com os outros, percamos nossa própria identidade. Cada qual tem suas certezas e tende a crer que são verdadeiras, acostumando-se apenas com dificuldade a perceber que o mundo não gira em torno de um único eixo. Nossa cultura, no ufanismo (orgulho extremado) de seu próprio pensamento, tem preferido, ao longo dos séculos, quando não pensar contra os outros, simplesmente pensar os outros, o que implica tomá-los como objeto e não como parceiros com os quais, necessariamente, se deve estabelecer uma relação de lateralidade e mutabilidade. Sirva como exemplo algo próximo, a formação do Brasil: os descobridores que aqui chegaram, nossos avós, e os que, mesmo sem ter vindo para cá, tomaram conhecimento do que aqui havia, sistematicamente falaram da diferença em sumo grau que aqui descobriram, procuraram conhecê-la, entendê-la, analisá-la e dominá-la. Em outros termos, pensaram a nova terra e os novos povos descobertos, mas recusaram-se a dividir o pensamento com povos estranhos, talvez porque o objetivo de todo o seu