direito- os donos do poder
A Península Ibérica formou, plasmou e constituiu a sociedade sob o império da guerra. Na história despertou, com as lutas contra o domínio romano, foi o teatro das investidas dos exércitos de Aníbal, viveu a ocupação germânica, contestada viteriosamente pelos mouros. Duas civilizações, uma do ocidente remoto, outra do oriente próximo. Do longo predominio da espada, nasceu, em direção às praias do Atlântico, o reino de Portugal, filho da revolução da independência e da conquista. Já diria, com anacrônica arrogância, um anônimo escritor-"é tão guerreiro, que nasceu com a espada na mão, armas lhes deram o primeiro berço, com as armas nasceu, delas vive, e vestido delas, como bom cavalheiro, há de ir para a cova no dia do juízo." No topo da sociedade , um rei, o chefe da guerra, general em campanha, conduz um povo de guerreiros, soldados obedientes a uma missão e em busca de um destino.
Ao princípe, afirma-o prematuramente um documento de 1098, incumbe reinar, ao tempo que os senhores sem a auréola feudal, apenas exercem o dominare, assenhoreando a terra sem governá-la. O rei, como senhor do reino, dispunha, instrumento de poder, da terra, num tempo que as rendas eram predominantemente derivadas do solo. A coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da reconquista, imenso patrimônio rural, cuja pripriedade confundiacom o domínio da casa real, aplicando o produto nas necessidades coletivas ou pessoais, sob as circuntâncias que distinguiam mal o bem público do bem particular, privatido do princípe. Afonso Henrique, primeiro rei de Portugal, no remoto no de 1140, alude a "todo herdamento e vinhas, e almoinhas, e figueiras que para mim tomei nas cercanias de Évora". Acentue-se, por temor à generalização, que a obra da restauração, já completa no século XIII, respeitou a propriedade individual. Os moçárabes, antigos cristãos arabizados, os descendentes dos colonos africanos e asiáticos, os sucessores dos súditose vassalos dos reis de Oviedo e Leão