Direito, Craição e Tecnologia
A situação atual impõe uma ética diferente, como diz Manfredo
Araújo de Oliveira, distinta das éticas tradicionais assim como das morais historicamente hegemônicas, porque estão vinculadas às relações privadas ou comunidades políticas nacionais, e por isso são incapazes de pensar os problemas surgidos da interdependência das nações “no contexto de uma mesma civilização tecnológica, de uma civilização planetária.” Está em jogo a co-responsabilidade planetária, que “seja capaz de produzir uma consciência cosmopolita de solidariedade e de recuperar a primazia do político no contexto de um mundo globalizado e ameaçado por um colapso ecológico e social.” 5
E o que pode significar “recuperar a primazia do político” nesse contexto? Importa esclarecer, então, o que significa o ser político, o que é a política, ou ao menos, definir o que pretendemos dizer quando nosreferimos à política. Uma pequena reflexão acerca da formação da ética tradicional é conveniente. Remontar, assim, à antiguidade, para mais tarde ingressar nas éticas contemporâneas, ajuda muito, nesse caso.
À diferença de Platão, Aristóteles faz ingressar no campo da ciência as substâncias materiais do mundo sensível, e com isso inicia a sistematização do conhecimento através da fundação de várias ciências, ordenando tudo o que existe sob princípios unitários - tal sistematização levará ao que atualmente chamamos de “Ciência”6
. Isso é possível através de sua classificação do conhecimento, ou da Filosofia7 em
“ciência teorética” (episteme, ou especulativa, englobando a Física,
Matemática e Metafísica), como “ciência poiética” (ou poiesis, seu objetivo é criar, produzir um objeto, é a “técnica”) e “ciência prática” (ou phronesis, o saber é orientado para o aperfeiçoamento moral).
Assim, a Ética foi fundada por Aristóteles como disciplina autônoma frente à Metafísica, devido à influência da idéia de “Bem” do
intelectualismo