Dimensões da filosofia As duas dimensões da filosofia, embora inseparáveis, podem distinguir-se tendo em conta propósitos específicos da reflexão filosófica. Na sua dimensão teórica, a filosofia procura conhecer a essência da realidade, tentando obter uma compreensão integradora do real, incluindo a reflexão sobre os vários saberes e os problemas por eles suscitados. Na sua dimensão prática, a filosofia ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, a saber viver, a agir de forma responsável, a intervir a nível social e político, visando a construção de uma vida mais feliz e de um mundo melhor. Estas duas dimensões não existem de forma isolada. Se, por exemplo, colocamos a questão da existência de Deus, não é decerto por mera curiosidade intelectual (dimensão teórica): fazemo-lo também para compreender que relação há entre a possível existência de Deus e a escolha que fazemos dos valores que orientam o nosso agir (dimensão prática). Entre a acção e o pensamento verifica-se uma dialéctica, uma dependência reciproca. Meditar e agir, pensar e actuar não são dimensões separáveis. A relação entre pensamento e acção permite-nos afirmar que pensamos para poder agir, mas também agimos para poder pensar. O verso de Goethe, ao notar que no princípio era a acção, parece colocar em destaque a anterioridade da- acção relativamente ao pensamento. Mas na vida diária estas dimensões nunca se encontram em estado puro (se é que, no limite, não poderão reduzir-se uma a outra). Nesse sentido, justificam-se as seguintes palavras de A. Jacquard: «Quanto mais sentirmos a necessidade de agir, tanto mais nos devemos esforçar por reflectir e meditar. Quanto mais nos sentirmos tentados pelo conforto da meditação, tanto mais devemos mergulhar na acção.»