Dilthey
DA COMPREENSÃO NAS CIÊNCIAS DO ESPÍRITO1
Maria Nazaré de Camargo Pacheco AMARAL 2
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RESUMO: O propósito sistemático-filosófico da crítica diltheiana da razão histórica traduz-se na busca de apoio do conhecimento objetivo para sua apreensão intuitiva da vida. O presente artigo busca mostrar não só aspectos da trajetória teórica do autor, mas também suas dificuldades e limites.
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PALAVRAS-CHAVE: vivência, expressão, compreensão, auto-reflexão, espírito objetivo
Objetivação da vida: vivência e realidade
A experiência de resistência do movimento e de inibição da vontade sofrida por nós no meio em que vivemos constitui, para Dilthey, a origem mais elementar de nossa crença na realidade do mundo exterior.
Contrariamente ao que outros filósofos têm tentado fazer, isto é, provar ou contestar a existência do mundo exterior apoiados na lógica da razão, Dilthey prefere fazer repousar a sua “prova” em uma crença. O homem se exercita no jogo vivo entre impulso e resistência, jogo a partir do qual se organiza o nexo adquirido de nossa vida psíquica. Ora, esse nexo adquirido extrai sua vitalidade da totalidade de nossas forças psí-
1 Texto da conferência proferida no Simpósio "Limites da Compreensão” realizado no Centro Universitário de Witten, Alemanha em junho de 2000.
2 Professora da faculdade de Educação da USP.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 27(2): 51-73, 2004
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quicas ao experimentarmos a resistência de nossos impulsos, ou em outras palavras, da totalidade de nossas vivências.
Em substituição à experiência mutilada da realidade, oferecida pelo sujeito cognoscente da filosofia tradicional do conhecimento, Dilthey oferece-nos o conceito de vivência, símbolo verdadeiro da experiência “plena e não mutilada” da realidade igualmente “plena e total”.3
Uma observação de Frithjof Rodi em relação ao conceito de vivência faz-se oportuna: “Este conceito Erlebnis que deve expressar a totalidade da