Dialetica Do Esclarecimento
Adorno e Horkheimer começam a Dialética do Esclarecimento esboçando uma clara questão diante do sucesso hegemônico do esclarecimento, ao aparente triunfo da sociedade ocidental burguesa e aos resultados advindos de tal decurso: "O que nos propuséramos era, de fato, nada menos do que descobrir por que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie".
Para responder a essa questão, eles buscam a origem do elemento esclarecedor na história antropológica. As sementes mais longínquas que encontram estão no processo de separação entre o homem e a natureza, de individuação do sujeito. A formação do ego requer uma forma de ordenação do mundo e de alteridade indivíduo-mundo. O caráter de separação, segundo eles, contém um elemento de coação, de ruptura com uma condição mais natural e espontânea. Ele traz um distanciamento e uma nostalgia que sempre nos acompanha: "A humanidade teve de se submeter a terríveis provações até que se formasse o eu, o caráter idêntico (...), e toda infância ainda é de certa forma a repetição disso. O esforço para manter a coesão do ego marca-o em todas as suas fases, e a tentação de perdê-lo jamais deixou de acompanhar a determinação cega de conservá-lo".
No processo evolutivo social, encontramos na tribo nômade uma separação do trabalho entre homens e mulheres, separação esta que marca os primórdios das relações de poder, tanto entre seres humanos como entre eles e a natureza. Também esse processo é visto como doloroso e violento: "Nas primeiras fases do nomadismo, os membros da tribo têm ainda uma parte autônoma nas ações destinadas a influenciar o curso da natureza. Os homens rastreiam a caça, as mulheres cuidam do trabalho que pode ser feito sem um comando rígido. Quanta violência foi necessária antes que as pessoas se acostumassem a uma coordenação tão simples como essa é impossível determinar".
Todo o desenrolar do processo de