DEZ POEMAS DE SILAS CORREA LEITE
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DEZ POEMASDESAFINADO
Está chovendo no roseiral
O céu tem nuvens sob lonas azuis
Talvez seja Elis cantando um blues
Águas de março muito além do fim
Ou talvez só seja o Tom Jobim
Com lágrima no uísque celestial.
HOMEM POESIA
“Muito acima do silêncio/Gravo o teu nome... ”
Liberté, Paul Éluard -Versão Carlos Domingos
De tanto escrever florestas
O homem vira árvore
De filhos e livros e frutos e neuras – e poesia.
De tanto escrever poemas
O homem também vira umazinha
De loucuras santas e buscas libertárias.
De tanto escrever rios caudalosos
O homem tende a ser uma cisterna de nuvens.
De tanto dar asas à imaginação
O ser pode virar um homem-pássaro e escrever clarificações em verso e prosa.
Levo sementes nas poesias
E pedra sabão nos bolsos delas.
Escrevo para não ser encontrado.
Quando buscarem-me a mim, encontrarão
Em vez do poeta perigoso e peregrino, o poema furta-cor que dele brotou.
Carrego um tijolo da casa que já não há.
A Itararezinha em mim é outra.
Água e barro, lágrima e luz, linguagem e parede
Poesia como um barco verde, um ônibus azul, um cometa de fogo amarelo-laranja ou uma ilha-balão
De tanto escrever loucuras
Tornei-me eu mesmo uma Poesia
Vejam o que vão fazer disso
Que vou levar meu tijolo para erguer uma casa para minha mãe no céu
“Infância, Canto e Dor”
Para Fatoumata Diawara (Cantora Malinesa)
Escrevo porque tenho a necessidade de cantar.
Entre os beduínos, o homem que conduz os camelos, quando está só no deserto,
Ele canta. Eu estou lá.
Eu estou só e canto sobre a vida, sobre mim.
Outros vão escutar e, talvez, cantar também...
(Poeta Árabe Khalid Al-Maaly)
Começaste a cantar nas ruas, para recolher migalhas
Para colocar comida em casa – Eras uma criança
Cantavas em casamentos, batizados, becos de sombras, pontas de ruas, e dizias:
-Gente, eu Canto porque tenho fome...
Perdoem se meu canto é rude e primário e amargo e