Desmundo
Jean Delumeau
O romance Desmundo, publicado em 1996 por Ana Miranda, narra a trajetória de jovens órfãs que são enviadas para o Brasil, em 1555, pela rainha de Portugal, para se casarem com cristãos que habitavam a colônia. A epígrafe informa o leitor:
Numa noite estrelada do ano de 1555 chega ao Brasil uma caravela trazendo uma leva de órfãs mandadas pela rainha de Portugal para se casarem com os cristãos que aqui habitavam. Com a mente repleta de sonhos e fantasias, elas pisam pela primeira vez a terra distante, onde um mundo rude, belíssimo, violento, as espera.
Uma dessas jovens, Oribela, é quem narra a história: no Brasil ela se casa, a contragosto, com o português Francisco de Albuquerque. Insatisfeita, planeja todos os dias retornar para Portugal. Empreende várias fugas e envolve- se com Ximeno, um mouro que lhe dá abrigo em sua casa. Além dessa história, há, também, no romance, outras histórias de mulheres, com a de Dona Branca, sogra de Oribela, e a de dona Urraca, senhora judia que fora enviada ao Brasil para cuidar das demais órfãs.
O que se percebe é que essas personagens são marcadas por uma história do medo, tal como apontou Jean Delumeau em A história do medo no Ocidente. Nesse livro, o filósofo enumera medos que estariam presentes na sociedade ocidental: o medo que se teria das doenças, dos judeus, dos muçulmanos e, também, da mulher. Há muito tempo, a relação do homem com o chamado “segundo sexo” é ambígua e contraditória. Para Delumeau, as pinturas, por exemplo, desde a Idade da Pedra, são, em sua maioria, representações do feminino (p. 326) No período romântico, a mulher foi, ainda, exaltada por pintores e escritores. Em