Desigualdade e contradição
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Desigualdade e contradição
Tópico 1 A perspectiva marxista: o trabalho alienado
O pensamento de Karl Marx, embora antecedesse a maior parte da digressão apresentada anteriormente, sintetiza o olhar sobre a sociedade numa perspectiva inovadora.
Ele propõe uma análise do funcionamento da sociedade de seu tempo a partir da questão da liberação das potencialidades da modernidade. Para ele, a burguesia e o capitalismo têm um papel muito positivo na história: eles permitiram que se acabasse com as dependências feudais, liberaram as forças do desenvolvimento, assim como emanciparam os indivíduos.
Neste ponto de vista, Marx herda, inicialmente, a concepção de indivíduo dos românticos: a liberdade não consiste em um controle moral e racional de nossas inclinações naturais; ela é a capacidade de transformar essas inclinações “espontâneas” em uma “autêntica expressão de si, contra todas as leis e regras”. Em seguida, para ele, como para os economistas de seu tempo, a vida social se organiza ao redor do domínio da natureza, isto é, ao redor do trabalho, único produtor de valor. O homem é homem porque tem a capacidade de se afastar do reino animal, menos pela reflexão ou pela consciência do que pela produção das suas condições de existência. O “homem” é um sujeito que age antes de ser um sujeito que conhece.
Reunindo essa duas ideias, Marx considera que o indivíduo se cria pela intervenção sobre a natureza, dito de outro modo, pelo seu trabalho. Para compreender o que Marx quer dizer, é necessário pensar no trabalho do artista: o artista cria com toda a liberdade e se exprime graças às suas obras. Através dos objetos assim fabricados, ele pode se reconhecer e ser reconhecido como pura individualidade. Na vida social, o trabalho é, portanto, um processo no qual aqueles que produzem são reconhecidos em conjunto e se realizam coletivamente.
Assim, para Marx, na sociedade burguesa, com o desenvolvimento do trabalho industrial assalariado, este