Desenvolvimento
A dimensão político-democrática nas teorias de desenvolvimento sustentável e suas implicações para a gestão local
KLAUS FREY* INTRODUÇÃO
Ao contestar e questionar pilares fundamentais da sociedade moderna, a crise ecológica global tem-se tornado nas últimas três décadas um dos maiores desafios da humanidade. As críticas à crença no progresso ilimitado, na superioridade dos padrões de geração de conhecimento da ciência ocidental, na força do sistema capitalista, “revolucionando constantemente os meios de produção”, aumentando a riqueza, contribuindo para o avanço tecnológico, trazendo bem-estar e felicidade para todos, formuladas por Horkheimer e Adorno (1996 [1944]) com grande perspicácia no contexto histórico do terror nacionalsocialista, receberam novos estímulos com a eclosão da crise ecológica global. A questão ecológica chama a nossa atenção para a relação de interdependência entre ser humano e natureza, fatalmente negligenciada pelo projeto da modernidade1. O debate acerca do desenvolvimento sustentável, que ganhou contornos globais com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, é resultado desta inquietação que parece ter atingido todo o planeta, não obstante a multidimensionalidade e as graves divergências existentes entre os diversos grupos e interesses que fazem parte deste suposto novo “movimento histórico transnacional” (VIOLA, 1996: 28). Em contraposição, a disseminação do neoliberalismo em todas as partes do mundo trouxe de volta um clima favorável ao economicismo e um discurso público irrefletido e míope que propaga um crescimento econômico desenfreado e privilegia a questão da geração de emprego “a qualquer custo”, em detrimento às preocupações acerca da sustentabilidade que prevaleceram na época da Rio-92. Apesar da comunidade internacional se reportar unanimemente favorável à concepção do