Desenvolvimento de pessoas
Papo de almoço de trabalho:
– Rogério, agendei este almoço com você porque estou enroscada...
Demissão, problemas financeiros, divórcio, relações extraconjugais, pensamentos suicidas... Seu olhar estatelado e atarantado só aumentava meu sinal de alerta para uma eventual notícia ruim. Fiquei em silêncio para respirar e esperar sua fala seguinte.
Preview– Ontem participei de uma reunião conjunta entre Conselho e Comitê Executivo. Apresentamos nosso Plano Estratégico de Pessoas para 2015. E saí de lá com uma demanda: nosso investimento em desenvolvimento de pessoas somente será aprovado se eu conseguir calcular o ROI desta iniciativa.
“Meu Deus!”, pensei comigo, “o assunto é muito mais grave do que imaginava”. Perguntei:
– Querida, responda com franqueza: você está preparada para uma conversa muito corajosa com eles?
Ao perceber que eu daria alguma ideia a respeito, seu olhar agora implorava ajuda. Seu “sim” ficou subentendido.
– Será preciso encarar a realidade: o tema de desenvolvimento está comprometido em sua organização pela “praga” dos pontos fracos. Seja sincera: para que serve seu processo de avaliação de desempenho? Para identificar pontos fracos das pessoas. Qual a lógica dos ciclos de feedbacks? Contar para as pessoas sobre seus pontos fracos. E, finalmente, a serviço do que estão os Planos de Desenvolvimento Individual? “Consertar” os pontos fracos da turma.
Sua mastigação paralisara.
– O investimento em desenvolvimento parece um gesto “filantrópico” e passa de modo implícito a seguinte mensagem: suas famílias mandaram vocês para cá cheios de defeitos. Como somos muito generosos, investiremos tempo e dinheiro para “desentortá-los”.
– Uf... – ela interrompeu – então deve ser por isso que nosso clima organizacional...
– ...está péssimo? – emendei, completando a frase. – Sim, não hesitaria em correlacionar uma coisa com outra.
Seu desconforto naquele instante ocupava todo o restaurante.
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